No Dia Internacional da Mulher, o
Ceará tem pouco o que comemorar. Os índices de violência contra as
mulheres no Estado só aumentam, acompanhando a escalada da criminalidade
em geral que atinge a população e que gerou 5.144 mortes no ano
passado, recorde histórico. Neste começo de 2018, em apenas 66 dias,
nada menos que 116 mulheres foram assassinadas, contra 26 em igual
período de 2017, o que representa um aumento da ordem de 346,1%. O
número de delegacias voltadas para o atendimento às vítimas de agressões
e ameaças é aquém do que determina a Lei.
A mais recente vítima dessa violência se chamava Jeane Ferreira da
Silva, tinha 32 anos de idade e, segundo seus familiares, era usuária de
drogas. Na noite desta quarta-feira (6), a vida de Jeane foi ceifada
bruscamente. Cinco tiros foram disparados à queima-roupa contra ela. O
crime ocorreu na Rua Visconde do Rio Branco, ao lado da Cidade da
Criança, em pleno Centro de Fortaleza.
O assassinato ocorreu por volta de 23 horas, segundo a Polícia. Ainda
com vida, Jeane foi levada numa ambulância do Samu ao Instituto Doutor
José Frota (IJF-Centro), onde morreu ainda na Sala de Emergência.
Ninguém foi preso, mas a suspeita da Polícia é de que o crime tenha sido
uma cobrança de dívidas do tráfico.
Desaparecidas
Assim como Jeane, outras 115 mulheres foram assassinadas nos
primeiros 66 dias de 2018. Somente em janeiro, foram 56 assassinatos. Em
fevereiro, outros 42. No mês de março, já são 18 casos, contando com a
morte de Jeane e de outras três jovens cujos corpos ainda não foram
encontrados.
As três garotas, identificadas como Nara Aline Mota de Lima, Darciele
Anselmo de Alencar e Ingrid Teixeira Pereira foram seqüestradas na
noite da última quinta-feira (1º), em uma residência na Barra do Ceará
por bandidos integrantes da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) e
levadas em um carro até o mangue do Rio Ceará, do outro lado da ponte
sobre o rio, na divisa entre Fortaleza e
Caucaia. O local se chama
Parque Leblon.
Ali, as três foram torturadas e obrigadas a dizer diante da câmera de
celulares dos assassinos que estavam “rasgando a camisa” do Comando
Vermelho e passando para o lado da GDE. Mesmo diante do depoimento
forçado, elas não tiveram suas vidas poupadas. Acabaram mortas a tiros e
degoladas. No vídeo postado nas redes sociais pelos próprios
criminosos, um homem aparece carregando nas mãos as três cabeças, que
são jogadas na lama do mangue. As buscas aos corpos continuam.
Sem delegacias
Além de registrar altíssimos índices de mortes de mulheres, o estado
do Ceará não obedece a lei que determina que todos os municípios com
população igual ou superior a 60 mil habitantes tenham instalada uma
Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). A obrigatoriedade está na própria
Constituição Estadual, de 1989, em seu artigo 185. Atualmente, são
apenas 10 Especializadas, nas seguintes cidades: Fortaleza, Caucaia,
Maracanaú, Pacatuba, Icó, Quixadá, Juazeiro do Norte, Crato, Sobral e
Iguatu.
Nessa condição de população, com população igual ou superior a 60 mil
habitantes, deveriam também contar com uma DDM mais 17 municípios
cearenses. São eles: Itapipoca, Maranguape, Aquiraz, Quixeramobim,
Canindé, Russas, Tianguá, Crateús, Aracati, Cascavel, Pacajus, Icó,
Horizonte, Camocim, Acaraú, Morada Nova e Viçosa do Ceará.